sábado, 28 de maio de 2011

Regule-se o nuclear, não as bananas


26 maio 2011 Die Tageszeitung Berlim


"A União Europeia harmoniza a regulamentação de frutas e legumes, mas não a segurança nuclear. Após Fukushima, é aberrante que os Estados continuem a tomar esse tipo de decisões sozinhos, sem controlo nem transparência, defende um jornalista alemão.




Toda a banana vendida em território da União Europeia deve ter pelo menos 14 centímetros de comprimento e 27 milímetros de grossura. É o que consta na regulamentação europeia em matéria de padrões de qualidade para bananas. Em compensação, sobre as centrais nucleares em funcionamento na UE, não existe uma política de segurança comum. Cada país faz o que quiser, que o aparelho comunitário, geralmente obcecado com a uniformização – em muitos casos, com resultados cómicos –, de repente declara-se sem qualquer competência formal.


Não há nada mais absurdo. Se perdermos o controlo de um reator nuclear, não importa em que lugar esteja na Europa, porque todo o continente será afetado. Ora é precisamente neste domínio que os Estados-membros podem decidir, cada um por si, o que fazem e o que permitem. Esta conceção de União Europeia, que só estabelece normas em áreas desprovidas de importância, é insuportável. Sobretudo depois de Fukushima. De outro modo, a comunidade arrisca-se a transformar-se, a prazo, numa república das bananas.


E já que falamos de poder de decisão: também na cena política interna não sabemos muito bem – e desde há muito – quem dirige o nuclear alemão. Qual a autoridade do Governo federal em matéria de política energética? Ou melhor: até que ponto está já nas mãos dos grupos de pressão do nuclear?



Acabar para sempre com a era da insanidade nuclear

Recordemos que, numa reunião secreta realizada no ano passado, os patrões do setor ditaram ao Governo a inscrição legal do prolongamento do período de vida útil das centrais de energia nuclear. No rescaldo de Fukushima, Angela Merkel e companhia, visivelmente levados ao arrependimento pelas sondagens, quiseram evitar dar a impressão de estarem sob o domínio dos grupos de pressão e manifestaram a intenção de acelerar a saída do nuclear.


Mas ressurge hoje a terrível suspeita: eis que, subitamente, o imposto sobre o combustível nuclear, que acabava de ser aprovado, está prestes a desaparecer – o Governo amarelo e preto [democrata cristão – liberal] prepara-se, pois, para votar ao esquecimento o seu único avanço relevante no campo da política energética. Mais uma prova de incompetência.


Mais do que nunca, parece óbvio que a reformulação energética precisa hoje, acima de tudo, de pessoas que se empenhem ativamente em banir pura e simplesmente o nuclear, utilizando fontes de energia alternativas. Ontem, por exemplo, as instalações fotovoltaicas alemãs produziram 120 milhões de quilowatts/hora de energia solar – ou seja, a produção diária de quatro centrais nucleares. Criar precedentes concretos é hoje, sem dúvida, a melhor maneira de acabar de uma vez por todas com esta era de insanidade nuclear. Na Alemanha como na Europa."


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