Benditos húngaros
Caso para se dizer: um já está, só faltam 26...
A Europa passa por aqui. A actualidade da União Europeia e assuntos relacionados com a vida de quem estuda ou estudou a Europa.
Ontem assinámos (salvo seja!) o Tratado de Lisboa.Com ele ganhámos um dia de viagens à borla no metro e nos autocarros da Carris e ainda entradas à borla em Museus!Será que ganhámos mais alguma coisa?
Uma iniciativa da Plataforma Imigração realizada em articulação com o Alto-Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural destinada a assinalar o dia Internacional dos Migrantes.
O risco maior desta Cimeira é ser capturada pelo caso do Presidente Mugabe. Estão reunidos todos os ingredientes: o tom de desafio do Presidente do Zimbabwe, a ausência na Cimeira do primeiro-ministro britânico, a atracção dos meios de comunicação pelo picante da situação.
Segundo esta notícia publicada no DN, parece que o nosso primeiro Ministro José Sócrates consegue ser ainda mais hábil com a conjuntura nacional do que Sarkozy na situação francesa. Talvez seja pelo seu estatuto de bom diplomata, que vai abordando a situação económica do país com alguma cautela e, na altura do choque, consegue diminuir o impacto perante os sindicatos.
e o nazi-fascismo invocou o europeísmo, eis que os movimentos de resistência não deixaram também de manifestar uma forte corrente de unidade europeia de cariz federalista, principalmente na França, na Bélgica e na Holanda.
Europeísmo totalitário
A ideia da Europa nos anos trinta penetrou de tal maneira no limiar da política que os próprios totalitarismos de então não deixaram de a instrumentalizar. É conhecido o projecto de Lenine de uns Estados Unidos Operários da Europa, numa estratégia que pretendia encontrar para a revolução bolchevique imediatos aliados ocidentais, nomeadamente pelo projecto de apoio à revolta comunista na Alemanha e a consequente extensão do incêndio da revolução mundial a Paris coisa que apenas foi impedida pela vitória dos polacos na batalha do Vístula.
Da mesma forma, Adolfo Hitler quase conseguiu, pela repressão, pela propaganda e pela conquista, constituir uma unificação europeia. Para as teses nazis, o Grossesdeutsches Reich deveria constituir um grande espaço com um Estado director, reunindo todos os povos de língua alemã.
Em primeiro lugar, deveria adquirir espaço vital, estendendo as fronteiras para Leste, onde deveriam situar-se os limites de um novo império, onde soldados-colonos deteriam os bárbaros vindos das estepes. Em segundo lugar, viriam os aliados, como os escandinavos, os holandeses e os ingleses. Em terceiro lugar, os satélites, como os latinos, os húngaros e os gregos. Finalmente, os eslavos pertenceriam à categoria de escravos e os judeus teriam de ser exterminados.
Como dizia Goering, em 1943, nessa altura o continente estaria maduro para a união política, união que conservaria as autonomias regionais e adoptaria um plano comum de cooperação colonial em África. Chegava mesmo a acrescentar: mesmo se nós perdermos a guerra, na minha opinião, é este o futuro da Europa e nada impedirá que ele se cumpra.
Na prática, a expansão hitleriana quase correspondeu a essa teoria, chegando a construir-se um Império continental bem mais extenso que o de Napoleão.
Primeiro, começou por estender-se às zonas alemãs. Em 12 de março de 1938 é a Anschluss da Áustria. Na Conferência de Munique de 29 e 30 de Setembro seguintes, garante a integração dos Sudetas. E em Março de 1939, já é eliminada a Checoslováquia.
Segundo, estabeleceu um contrato de seguro com o estalinismo gestor da Rússia, o pacto germano-soviético de 24 de Agosto de 1939.
Finalmente, a guerra, que começa com a invasão da Polónia, no dia 1 de Setembro de 1939. A ocidente, vão caindo a Holanda, a Bélgica e a França; a norte, a Dinamarca e a Noruega; a sul, a Jugoslávia e a Grécia; em direcção ao centro, a Checoslováquia e a Áustria; a Leste, os países bálticos e a Polónia.
Tem como aliados a Hungria, a Roménia e a Bulgária. A Itália é um parceiro. A Espanha e a Finlândia são amigos. Portugal depende do que acontecer com Espanha. A Suécia e a Suíça assumem a neutralidade. A própria Rússia parecia subjugada e Hitler chega a ir mais longe do que Napoleão quando se lança no Cáucaso.
O modelo organizatório do Estado director divide a Checoslováquia entre um Estado eslovaco e um Protectorado da Boémia-Morávia. Na Jugoslávia, é criado um Estado croata, incluindo a Bósnia, que vai ser gerido por Ante Pavelitch.
O elemento mobilizador desse grande espaço político passou a ser a luta contra o comunismo: é preciso fazer a Europa contra o bolchevismo, foi o signo mobilizador que fez chamar à campanha da Rússia inúmeros voluntários de vários países europeus que se aliaram à ofensiva nazi. Passou então a falar-se numa Europa Nova e numa ordem nova. Goebbels, o principal expoente de toda esta propaganda, declarava então : não será a primeira vez na história que a Europa comungará das mesmas concepções políticas, morais, sociais e económicas. Um povo de senhores (Herrenvolk) está prestes a construir uma Europa de vassalos (Untermenschen).
Em Maio de 1943, Hitler confessava a Goebbels: qualquer desordem dos pequenos Estados que ainda existem na Europa deve ser liquidada tão depressa quanto possível. O objectivo da nossa luta deve ser criar uma Europa unificada. Os alemães, sozinhos, podem realmente organizar a Europa.
Aliás, foi reagindo contra esta mobilização que o grande escritor alemão Thomas Mann, numa comunicação aos europeus, feita na Rádio Nova Iorque, em Janeiro de 1943, considerou: o grande ideal da Europa foi pervertido e corrompido de maneira horrível; caiu nas mãos do nazismo que, há dez anos, conquistou a Alemanha e conseguiu, por causa da vossa desunião, subjugar todo o continente. Esta conquista do continente é apresentada pelos nazis como a unificação da Europa, como a "ordem nova", conforme as leis da história. De todas as mentiras de Hitler, a mais insolente é a mentira europeia, a perversão da ideia europeia... Ficai sabendo, ouvintes europeus ... a verdadeira Europa será criada por vocês mesmos, com a ajuda das potências livres.
O europeísmo constituía, aliás, um dos elementos estruturantes do romantismo fascista francês. Pierre Drieu La Rochelle advogava já em 1921, em Mesure de la France que a era das alianças está aberta sem que o papel das pátrias tenha terminado, preocupando-o a circunstância dos russos serem 150 milhões e dos americanos rondarem os 120 milhões. Assim, considerava que a Europa se federará ou então se devorará ou será devorada. E as gerações da guerra, que não parecem por aí caminharem, farão isso ou então será tarde demais.
Cerca de um lustro depois, em Genève ou Mouscou, de 1927, já propunha um patriotismo europeu contra o nacionalismo, proclamando a necessidade de se ultrapassar o esgotamento espiritual das pátrias, necessidade de se criar uma vasta autarquia económica à medida de um continente.
Em 1931 escreve Europe contre les Patries, temendo uma Europa central e oriental atormentada pelo inacabamento das suas formas temendo a guerra. Em 1934 chega mesmo a dizer: a minha fé na Sociedade das Nações, afirmava-se maior do que nunca. Hoje, en dépit des traverses, permanece. Espero as metamorfoses da ideia. Em 1940 que agora é preciso entrar no federalismo e pôr fim ao nacionalismo integral e ao autonomismo patriótico.
Alphonse de Chateaubriant numa carta de 28 de Novembro de 1918 dizia: o futuro da Europa é muito sombrio, mas, custe o que custar, caminhamos para uma "Europa una", cada vez mais "una".
Robert Brasillach, falando na Europa como o velho cabo da Europa, donde partiu, há três mil anos a civilização branca, defendia o colaboracionismo em nome da necessária aliança franco-alemã: sem a França indestrutível e a Alemanha indestrutível, nenhuma paz poderá jamais estabelecer-se na Europa. Se tentarem aniquilar uma ou outra, os germes da guerra renascerão sempre. Não apenas a Alemanha é as única potência no mundo que pode hoje barrar o caminho à revolução marxista, quer isto nos agrade ou não, mas, para além deste facto, a Alemanha está no centro da Europa e aí ficará sempre: sem a sua força nada é, portanto, possível.
Com efeito, entre os fascistas autênticos surgiu um europeísmo, entendido como um grande nacionalismo, numa Europa entendida como uma grande pátria. Como expressivamente referia Drieu, sempre fui um nacionalista que a ele renunciou em nome da Europa, um filósofo da força que acreditou cada vez mais na utilidade da força entre os europeus.
Esta perspectiva manteve-se no próprio neofascismo, destacando-se Jean Thiriart a teorizar uma Nação‑Europa que deveria ter direito a um Estado‑Europa. Este autor, reagindo contra a pátria‑hábito (v.g. a Bélgica), a pátria‑recordação (v.g. a Alemanha) e a pátria‑herança (v.g.a França), vem defender que a única verdadeira pátria é aquela que pensa no devir, isto é, uma pátria de expansão, chegando a definir-se como um nacional‑bolchevique pan‑europeu, ao serviço de um comunismo liberto de Marx, e propondo a necessária passagem dos Estados‑territoriais para os Estados‑continentais.
Criticando a ideia gaullista de Europa das Pátrias, considerada como uma junção momentânea e precária de rancores e fraquezas, proclamava um nacionalismo europeu que pudesse enfrentar os nacionalismos russo e americano, considerando que a Europa deve ser unitária: uma Europa confederada ou Europa das pátrias são concepções onde a imprecisão e a complicação escondem a custo a falta de sinceridade ou a senilidade dos que as defendem e dissimulam os seus propósitos e os seus cálculos.
Para o mesmo Thiriart, a Europa confederada é a forma das alianças clássicas e dos preconceitos tão clássicos como desonestos ... é a Europa aberta às influências estrangeiras.
Mas se considera que a fórmula federal constitui um grande progresso, ainda contém em germe a possibilidade de cisões ou, pelo menos, de crises internas. Teria de ser mero estádio preparatório da Europa unitária. É que a fórmula confederal é o cálculo e preconceito; a fórmula federal é a confusão; a forma unitária é o método, a ordem, a clareza, a diferença que faz a concubinagem, o noivado e o casamento.
Retirado de Respublica com apoio do farol
Face à última polémica criada neste blog entre mim e o Pedro Russo, sobre o “Ministro dos Negócios Estrangeiros” (não) presente no Tratado de Lisboa, que descambou como de costume em ataques pessoais absurdos, senti-me obrigado a fazer alguns esclarecimentos técnicos e pessoais.
Isto não é nenhuma defesa de honra, pois quem me conhece sabe que tenho um prazer acrescido em confrontos, sempre que há inteligência e “fair play” nos mesmos.Começando pela parte técnica do assunto, tenho a seguinte visão:
1. O novo tratado de Lisboa não prevê a criação de nenhum Ministro dos Negócios Estrangeiros da UE. Em toda a extensão do Tratado e nas centenas de artigos que o compõem, nunca aparece essa designação.
2. No Tratado está prevista a figura do “Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança”, que como o nome indica não é um Ministro.
3. Lendo os diversos artigos que falam sobre as atribuições deste Alto Representante é claro que se trata de um “funcionário” comunitário com responsabilidades acrescidas, é certo, mas sem peso político efectivo.
4. O Alto Representante surge da fusão entre o “Senhor PESC” – Javier Solana – e o Comissário das Relações Externas. E quando se fala numa fusão, normalmente 1+1 não é igual a dois porque se criam sinergias que fazem com que o resultado final seja mais do que a simples união de duas realidades. Neste caso 1+1 é mesmo igual a dois, pois as novas funções deste representante pouco diferem das funções anteriormente conhecidas.
5. O art. 10-A prevê que “A União vela pela coerência entre os diferentes domínios da sua acção externa e entre estes e as suas outras políticas. O Conselho e a Comissão, assistidos pelo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, asseguram essa coerência e cooperam para o efeito”. Neste artigo é paradigmático que este representante vive da boa vontade do Conselho e da Comissão e que não tem um peso político e supra-nacional efectivo na definição de uma visão comunitário de relações externas
6. O art. 10-C é claro ao afirmar que a politica externa mantêm o actual “status quo” sendo definida pelo Conselho Europeu e pelo Conselho, não havendo assim qualquer alteração ao actual estado de coisas, e permitindo a policéfalia comunitária actual em relação à política externa. “A política externa e de segurança comum está sujeita a regras e procedimentos específicos. É definida e executada pelo Conselho Europeu e pelo Conselho, que deliberam por unanimidade, salvo disposição em contrário dos Tratados. Fica excluída a adopção de actos legislativos. Esta política é executada pelo Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e pelos Estados-Membros, nos termos dos Tratados.” Não seria de esperar que o eixo Franco-Alemão, a afinidade transatlântica entre Inglaterra e EUA e outras tantas afinidades externas europeias fossem abaladas por alguém que passasse a decidir numa área que é fulcral para um Estado: as relações externas.
7. Contudo este Alto Representante tem a possibilidade de propor ao Conselho e à Comissão acções concertadas na política externa, e ainda coordenar a representação europeia no plano externo. Situação que actualmente é “grosso modo” desempenhada por Javier Solana.
8. Esta figura prevista no Tratado de Lisboa está longe de ter as atribuições dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, bastando para isso olhar para as orgânicas dos Governos Europeus para entender que carece de peso político e de reconhecimento internacional para exercer funções comparáveis. Para mais haverá sempre relutância de alguns “players” internacionais em dialogar aberta e francamente com alguém que não tem meios políticos para resolver problemas. O Alto Representando será na melhor das hipóteses um intermediário e nunca um interlocutor na resolução dos grandes problemas. Mas o tempo encarregar-se-á de mostrar isso mesmo.
9. Concluindo, esta parte técnica, acho que é obvio que nem de perto nem de longo estamos a falar de um MNE da União europeia, na melhor das hipóteses estamos a falar de um “tubo de ensaio” ou de um proto-MNE da UE a ser implementado num futuro ainda distante.
Em relação à conferência, foi com a melhor das intenções que propus ao NESTEU que se fizesse um debate De e PARA alunos de EE com o objectivo de discutir e debater em conjunto o novo Tratado de Lisboa, pois é fundamental que estejamos esclarecidos nesta área. As pessoas responsáveis e com senso do NESTEU acolheram bem a ideia e reconheceram a sua importância na promoção do debate europeu na FLUL e no curso. Contudo já não estou disponível para participar no mesmo, pois não quero que se torne num despique pessoal e mesquinho. Contudo, no futuro estou disponível para colaborar com o Núcleo que muito lutei por ele, e que, se hoje tem condições e infra estruturas para trabalhar, deve a mim a quem trabalhou comigo e a outros antes de mim! É bom que não haja dúvidas sobre isso.
Encerro aqui esta triste situação parafraseando um antigo professor meu, que expressa o meu estado de espírito em relação ao Pedro e ao seu ódio de estimação em relação a mim “Quem vai à frente faz pó, quem vai atrás come pó!”
Fábio Vieira
Mestrando em Politicas Europeias
Licenciado em Estudos Europeus
AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL